quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ok, é tempo de despedidas. Tempo de terminar as despedidas. Já cheguei no Brasil, no Rio, em casa. Já tive a sensação de que tudo está igual, e também já a perdi. Já tomei coragem de rever as fotos do ultimo mes, que foi um mochilão, e só tem sensação boa na lembrança! O que fica é o que vale, certo?


Alguém me pediu pra escrever de forma menos formal, então aqui vai, pelo menos na ultima vez.
Tentando contar o que me aconteceu na fase saída do erasmus e volta pra casa, tenho que começar com três personagens principais dessa história: Camila, Layla e Itauana, três das minhas amigas de "infância" que quebraram o cofrinho pra ir me buscar e levar um pouco da minha vida brasileira pra perto de mim. Não tenho palavras pra descrever como foi bom!
Demos a volta ao mundo em um mês, visitando quatro países, conhecendo muitas cidades lindas, muita história e nos divertindo como nunca. O clima de férias deixou no chão as mazelas de viajar no verão na Europa - quando você e toda a torcida do flamengo aproveitaram o euro em baixa e lotaram os pontos turíticos. O auge da viagem pra mim foi o nosso reencontro: as meninas incorporaram todas as expressões em espanhol que eu já tinha inserido no meu dircurso diário, se apaixonaram por cada cidade que passamos, com um carinho todo especial por Sevilla, e fizemos questao de manter um ritmo agradável pela viagem: escolhemos os pontos que queríamos visitar, e fizemos de cada pausa pra descanso e comida um longo momento de botar a conversa em dia e matar a saudade, que tava é grande. 


A volta ao Brasil ficou então um pouco amenizada, mas ainda assim foi difícil: já tinha desacostumado com as longas distâncias e outras particularidades da vida por aqui. Mas voltei perto do meu aniversário e foi uma ótima desculpa pra rever os amigos e aos poucos voltar à vida por aqui. 


A todos que me acompanharam esse último ano, enviando palavras de carinho, meu muito obrigado!!!!
Um beijo enorme
Luísa

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Até hoje foi sempre futuro

"Ai, ai, ai aaaaaii, tá chegando a hora! O dia já vem, raiando meu bem, eu tenho que ir embora!"


Bati o recorde mais uma vez. Passou praticamente um mês desde meu último post, infelizmente. Hoje é meu último dia em Sevilla, minha última noite aqui na minha casa.  O último mês foi corrido: meu irmão veio me visitar, eu terminei as atividades da faculdade, e viajei para alguns lugares fantásticos. O blog, durante esse ano todo, foi uma boa forma que eu encontrei de desabafar um pouco e compartilhar tudo que andou passando comigo. Foram uns 50 posts e mais de três mil visitas, e valeu muito a pena. Amanhã começo a primeira parte da grande viagem final, e não sei como vai ficar meu acesso à internet, então por hora fecho as portas oficialmente, deixando uma fresta aberta pra um prólogo, ou "o que aconteceu com Luísa depois de dar a volta ao mundo em 80 dias".
Pra tentar compensar um pouco a ultima ausencia, aí vai um an passant dos últimos acontecimentos:

Depois de nove meses de comunicação via uma tela, o Gabriel, meu irmão gêmeo, veio me visitar!!! El Gemelito fez o maior sucesso, conheceu meus amigos, apreciou minha desenvolta culinária, turistou e fizemos muita festa juntos. Foi uma semaninha curta mas muito divertida, que acabou em Madrid, de onde saía seu voo de volta para o Brasil. Te amo, Ga!
De Madrid eu peguei um võo pro Porto, em Portugal, ter uma aula de arquitetura com o Álvaro Siza, principal arquiteto português, Souto de Moura, seu discípulo e recente ganhador do Pritzker, o "Oscar" da arquitetura, e o Rem Koolhaas, arquiteto holandês que tem esse projeto aí da foto - a Casa da Música - no centro da cidade (Na foto, a primeira vista que eu tive do projeto, saindo da estação de metrô que leva seu nome). É asustador. Eu passei o ano estudando o Siza e o Koolhaas aqui em Sevilla e de verdade foram dois dias de aulas de arquitetura viva. Casa linha do desenho desses arquitetos tem um sentido, e as suas obras quase que falam. 
Além disso, estar em Portugal foi uma emoção à parte. Fazia tempo que eu não me comunicava livremente em português (falar com os brasileiros aqui de Sevilla não conta! haha) e lia "ç" e "ão" por todo canto. De certa forma a proximidade com o Brasil e com a minha volta mexeram um pouco comigo, sabendo que tá muito próximo o finzinho aqui, mas enfim, o encanto com essa cidade me animou, foi uma das mais bonitas que já vi por aqui.
E, por fim, a aventura mais esperada da Europa: ir pro Marrocos fazer uma excursão ao deserto.. haha. Não tenho como narrar todas as coisas que vi e ouvi por alí, fosse no barulho de Marrakech, fosse no silêncio do deserto em Merzuga, fronteira do Marrocos com a Argélia. As cores intensas, a caligrafia delicada, o dinheiro que vale tão pouco, as crianças pedindo dinheiro, as mulheres de cabelos escondidos. Os berbers, nômades do deserto que mal sabem sua idade mas falam uns cinco idiomas, conscientes de que comunicar-se é uma forma de sobrevivência. O calor quase carioca, a cor sempre rosa das construcôes, a mimesis com a natureza, a arquitetura sempre presente. A simpatia das pessoas, o desespero das pessoas. As dunas infinitas, o mar de areia. Foram mais ou menos quatro dias e meio nesse país, mas bastou pra perceber que ficou muita coisa por ver. Que bom, fica uma desculpa pra voltar.

Então, por fim, acabou. Sabe aquela música, é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte? Impossível não lembrar. Mas eu prefiro guardar com carinho o título desse post, que eu ouvi de um italiano que se foi de intercâmbio em portugal, e entendeu assim sua experiência: até hoje foi sempre futuro. Não sei quando a ficha vai cair de tudo o que passou, mas o sentimento de alegria e aprendizado vão ficar pra sempre. 

Serão muitos dias de viagens antes de voltar ao Brasil, e espero realmente ter tempo pra ir contando as aventuras por aqui. 

Um beijo pra todos os que me acompanharam aqui, lendo, comentando, me apoiando!

Hasta la vista, baby! 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Carioca, brasileira, americana; terrestre?

Que o intercâmbio é uma oportunidade de se conhecer melhor, uma vez que você está longe de casa, amigos e família, todo mundo sabe. Mas aqui descobri que o intercâmbio é também uma oportunidade de re-conhecimento. Assim,  meu professor de composição (que é o que mais me faz pensar sobre a arquitetura, a vida e o mundo mundial) disse outro dia em classe: "sólo eres tu cuando reconoce tu exterioridad". O que isso quer dizer, pelo que eu entendi, é que entender algo, identificar, nomear e etc, é um processo também de identificar seu lugar/posição no mundo e seus limites. Definir uma coisa por aquilo que ela não é (como a clássica 1ºaula de urbanismo em que se define cidade como o contrário de campo) é um já batido também.
Assim que, realizar que o seu lugar no mundo de certa forma também define quem você é, é bem interessante.
Já sabia antes de vir que a europa tinha cidades bem antigas, que as pessoas eram muito cuidadosas com a cidade, que na Itália se come pasta e na França crepes.. e outros clichês. Mas tive que (vi)ver de perto os europeus e suas cidades pra entender porque no Brasil temos menos cuidado. Entender que uma cidade é grande quando tem 500 mil habitantes e 2000 anos de história e que isso cria(??) pessoas diferentes das de cidades com 5 milhoes de habitantes e 200 anos de história. 
No Brasil, americano é quem nasceu nos Estados Unidos (da América), certo? Errado. Aqui, pela primeira vez me senti americana, fruto de um modo de viver e de construir altamente capitalista, globalizado e veloz. É, o ritmo do velho mundo é mesmo outro. Mudar? É fácil mudar de ritmo com um rio, uma giralda, e um tempo demasiado grande entre almoço e noite. Restaria saber como vai ser a volta, mas nela eu não vou pensar, já resolvi.
Outra coisa muito legal foi enxergar minha cariquiocidade  com outros olhos (ainda que eu viva em Niterói há mais de dez anos) e que meu sotaque não seja assim tão forte (aham, cláudia). Mas conviver com brasileiros de todas as partes do brasil menos do Rio me fizeram estranhar meu próprio S, e conhecer melhor os quatro cantos do meu próprio canto. Um outro professor meu do rio (sim, eu presto atenção nos meus professores.. haha) que era gaúcho, disse que quando estava em Londres fazendo doutorado também percebeu o quanto sua gaucheza fazia parte dele. Hj eu o entendo. Há gestos, atitudes e modos que só um carioca faria, ou só um baiano, ou só um palermitano, es decir. 
Cada um no seu quadrado? ainda bem que brincamos de nos (re)conhecer, e aprendemos tanto com isso.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mudaram as estações (nada mudou)

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba?"
(Por Enquanto, Cassia Eller)


Só pra que, se antes a sensação era de "tá acabando!" agora já virou "já acabou". Já faço listas de lugares de Sevilla que eu ainda não conheci, comecei a fotografar cada esquina que vejo, e me dou conta de que me faltam duas semanas pra terminar todos os meus trabalhos, até que chegue meu irmão e as entregas. Já cruzo a ponte olhando o rio e pensando "não quero ir!"
Só não termino com "estamos indo de volta pra casa", porque seria uma mentira.


Opto por terminar com um poema de um livro que minha mãe me deu quando eu era criança (não lembro a idade!) e nunca me esqueci, e acho o finalzinho um tanto quanto pertinente.


"Um aviador irlandês prevê sua morte
Nas nuvens, perdido, em seu meio,
Que sina me aguarda estou vendo;
Quem vou combater não odeio,
Não amo a quem defendo.
É Kiltartan Cross minha terra,
Minha gente, os pobres de lá,
Seu mal não finda o fim da guerra
E nem mais feliz a fará.
Não luto por lei, por dever,
Políticos, povo, escarcéu:
Impulso só meu de prazer
Me trouxe ao tumulto do céu.
A mente os cálculos faz:
À frente não tendo o que importe,
Nem tendo o que importe por trás,
Compensa esta vida esta morte.


D.W.Yeats

Tradução de Paulo Vizioli, no livro Poemas (Companhia das Letras, 1991)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Moda em estações (in)definidas

Na minha terra é assim: no inverno a gente usa calça jeans, casaco (cujo tecido mais grosso é o.. jeans?) e sapatilha. No verão a gente usa sandália, saia, short e blusa sem manga. E é suficiente.
Bastou eu cruzar o oceano pra  mergulhar num oceano de acessorios que acompanham a passagem das estações e truques pra sobreviver à todas elas, como o incrível princípio da cebola, no inverno. 
A chegada em Sevilla foi ótima: saí do inverno carioca (oi?) de 20ºC pro verão Sevillano, me sentindo em casa: andava pelas ruas de short e havaiana.

Verão em Cadiz - pernas e braços de fora, cablo preso!



E chegou o outono! Sobreposições,
lenços e calça comprida
Mas outubro chegou, o sol deu adeus, e no terceiro mês que eu passei em Sevilla tendo que comprar roupas confesso que levei um susto: até quando minhas guarda-roupa brasileiro ia continuar inadequado pro clima europeu?? Quando eu compava uma blusa de manga curta, passava duas semanas pra ela ser inutilizada. Ok, compro uma de manga comprida. Oi? Ok, um casaquinho pra noite. Naaada disso!
Passei um tempo dormindo com calça de ginástica (e quem disse que eu tinha pijama de calça comprida?) e casaco, mas de fato foi Londres que me fez entender que o frio não algo com que se brinca: há que estar preparado. Foi a primeira grande viagem pro "exterior" e foi quando a crueldade do inverno deu as caras (e isso porque ainda estávamos no outono!!!). Pra me preparar, fui no outlet da outlet da Zara, comprei um casaco de chuva sensacional por 15 euros e me senti garantida. Ou quase.. me disseram que lá chovia todo santo dia e que um ítem indispensável era a famosa bota galocha, quase uma havaiana para os brasileiros. Acontece que era nossa primeira viagem de Ryanair, e.. quem disse que eu ia levar algum outro calçado na minha humilde malinha de 50L? Resultado: cinco dias com o pé metido num bota até o joelho e congelando. Ok, aprendi. O que eu sei é que frio é o que eu passei em Sevilla, o que eu senti em londres, ainda não inventaram nome!!
Inverno em Viena - lição aprendida, de casaco, gorro, luva de couro , calça e bota!

Ok, voltando, esse post não é pra falar do frio, mas sim como a mudança das estações se refletiu no meu armário. Passados os festejos de fim de ano, o inverno continuou maltratando e me fazendo circular por aí com meia calça, calça de ginástica e calça jeans por cima (eis o princípio da cebola), impedindo meus movimentos e me fazendo esquecer da cor do meu.. pé.
Os lenços da outono foram substituidos por grossos cachecóis e as blusas sem manga foram guardadas na mala - não fazia sentido ficar ocupando o armário à toa. 
Quase que por milagre fomos presenteados com duas ondas de calor: uma no começo de janeiro e uma no meio de fevereiro, essa última com termômetros alcançando mais de 30ºC e fazendo todo mundo acreditar que a primavera tinha chegado. Que nada, seu anúncio oficial veio a pouco mais de um mês, e agora sim, as botas não fazem parte mais do figurino (a chuva agora convida pra um tênis..) os lenços voltaram a dar o ar da graça e as estampas florais invadiram todas as vitrines que se prezem. 
Mas um ítem continua me chamando a atenção: a meia calça. No Rio era cor de pele e coisa de velho.. sem sentido nenhum.

Primavera indefinida - meia no lugar da calça, sapatilha no lugar da bota, lenço no lugar do cachecol, mas, ainda de casaquinho na mão.


Aqui foi o charme do outono e fim do inverno com todas as suas cores, expessuras e texturas. Agora é o maior quebra-galho: a calça jeans já ficou muito pesada, mas ainda não dá pra circular por aí de shortinho, ainda mais em um ambiente um pouquinho mais formal como a faculdade. Mesmo transparente/cor da pele, dá um ar mais "elegante" e esquenta pro caso de bater um ventinho.
Bom, essa semana que vem vamos presenciar aqui o maior desfile da Andalucía: La Feria de Sevilla! Uma grande feira, com muita comida, bebida, flamenco e sevilla e, é claro, os mais belos trajes. Um vestido novo chega a custar 500 euros, mas todas as erasmus se viram pra entrar no clima, que é cheio de cores e cultura! Mal posso esperar! Hasta luego!


Primavera quase verão - cores alegres e finalmente, a luz do sol. =)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma Semana Santa muy peculiar

As ruas lotadas revelavam a expectativa que gera um evento de Interese turistico internacional. Qualquer guía turístico de Sevilla avisa: esteja na cidade pra ver a Semana Santa e a Feria, principais eventos turísticos da cidade, (que alias são em datas bem próximas). Quem ficou viu uma cidade transformar-se num grande palco de procissões, com várias ruas tomadas de gente, as áreas principais, ao redor da catedral e nas ruas principais, com filas e mais filas de cadeiras (reservadas pras familias ricas que pagam uma bolada por elas) e até a querida Sevici teve estações desativadas pra impedir a circulação de bicicletas em áreas de procissões. Tudo meticulosamente pensado.
O que não deu pra prever foi o temporal, que molhou desde o começo e a partir da quinta-feira (ou seja, nos dias principais) impediu a saída das procissões e deixou turistas e sevillanos muito é tristes.
Contando a história desde o começo, é preciso mencionar que os festejos começaram no Domingo de Ramos, quando todas as pessoas saem bem vestidas nas ruas e as mulheres compram roupas novas (vide os figurinos ao lado "Hoy me voy de rojo - y yo de verde". Ramo que é bom, eu só vi um galhinho tímido que nem de palma era, na missa. Crente que ia ver sevilla coberta de verde...
Nos dias que se seguiram, a programação era mais ou menos assim: procissões por toda a tarde e noite, cada uma de uma Irmandade (tipo uma organização dentro das paróquias) que seguiam mais ou menos o mesmo padrão, banda, nazarenos, o paso de Jesus, mais nazarenos, penitentes, o paso da Virgen, mas banda. Os pasos são as estruturas com muitas velas e ornamentos que carregavam imagens de Jesus em seus atos mais conhecidos, referente ao dia da semana que aparecem.

Em Sevilla os pasos são carregados por homens, que se juntam pela cidades semanas antes ensaiando com concreto nas coisas o peso dessas estruturas. Uma das poucas cenas de fé e sacrifício que vi (isso porque as procissões são chamadas "estações de penitência") foi o descer do paso, quando abre-se a cortina vermelha e vê-se a cara desses homens, aparece um outro oferendo água em uma jarra de barro, e depois fica um senhor de terno na frente do apso precitando palavras de força até bater forte na madeira e num tranco só o paso se levanta, e soam os aplausous, numa cena que se repete mais ou menos a cada quinze minutos de procissão.
Fora isso, passava  a banda tocando uma série de instrumentos, mas não tinha assim um canto que todas as pessoas na rua pudessem acompanhar. Mas peraí, canto? Não deveria ser uma.. oração? Do Santo, do dia, o terço? Necas. Fora as imagens religiosas e a longa história das irmandades na cidade, o que vimos foi um desfile de imagens e um mar de turístas fotografando-as (nós inclusive, claro). Os Nazarenos são as figuras que levam esses capuzes compridos e a quem (quase) todo mundo se referia como Ku Klux Klan mas que ninguém, eu disse NINGUÉM soube explicar o porque do figurino (eu perguntei, juro! mais de uma vez.) 
Os penitentes são os que levam as mesmas roupas dos narazenos, mas sem armação pontiaguda, e carregam na mão uma cruz e saem descalsos (um dos outros poucos atos de sacrifíco) na procissão, mas o espanhol que eu conheci que sai de Penitente me disse que o pai dele o inscreveu quando ele nasceu, paga todo mês à irmandade pra ele sair na procissão e que nos outros 364 dias do ano ele não faz nada relacionado à igreja. 

A segunda cena mais emocionante que presenciamos, a quase saída de umas das irmandades mais antigas - esperanza de Triana - bairro onde vivo yo, me surpreendeu de duas maneiras. Foi assim: Estava o bairro INTEIRO concentrado na porta da igreja de onde sai a tal famosa Vigen, quase todo mundo já concentrado ali desde meio dia, "bajo el sol", aplaudindo vigorosamente quando chegou  a banda, quando o céu resolve cair sobre nossas cabeças em forma de água, deixando a Virgen quietinha protegida dentro da igreja e todos os sevillanos presentes de coração na mão. O anúncio foi fatal: entre a chuva apertar, as pessoas se solidarizarem com a banda (PARAGUAS A LOS NINÕS!!!) e a correrria pra sair todo mundo dali, ao vê-los saindo, não faltou gente chorando, e a cena foi bem triste.
Por outro lado, enquanto esperávamos a decisão da saída-ou-não-saída, perguntamos a um senhor o que significava o símbolo no brasão da irmandade, o homem me saca uma medalha de ouro do pescoço enchendo a boca pra dizer que a tinha há uns 50 anos, pra na hora de responder gaguejar: "oye tía... que no tengo ni idea". OI? Como você não sabe o que significa o símbolo que vc carrega a meio século????????????????????????
Relembrando as festividades mais religiosas no Brasil, sejam elas quais sejam, com todas aquelas senhoras de terço na mão, com a história de seu santo padroeiro na ponta da língua, não teve como não associar tudo isso a uma espécie de carnaval: Concentração, "sair" na escola que mais te agrada, passar a bateria animando as "alas", alegorias e mais alegorias.. bom, achei estranho.
Naquela que é considerada a cidade mais católica do mundo, termino com a imagem que caracteriza a Semana Santa, e que apesar de tudo é bem bonita: os impressionantes pasos, com suas cenas bíblicas decoradas com delicados ornamentos dourados e  inúmeras velas. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Engenheiros em protesto

Parêntesis na Semana Santa pra registrar um acontecimento da semana passada: um protesto de estudantes na faculdade, que hj eu consegui as fotos da Luana que estrategicamente tinha sua máquina em mãos naquela tarde. Foi assim: estávamos na aula ouvindo uma barulheira enorme, e quando saímos vimos todos os aparejadores na rua gritando e marchando rumo à reitoria. Aos poucos fomos nos inteirando do que se passava. Acontece que aqui na Espanha, a Escola Técnica Superior de Arquitetura oferece uma formação super completa aos estudantes, que comparado aos cursos do Brasil é quase uma soma de Arquitetura e Engenharia Civil, à exceção de alguns temas que ficaram por conta de uma outra escola vizinha, que primeiro se chamou Escuela de Aparejadores, depois Arquitectura Técnica, e por fim, recentemente, ganhou o título de Ingeniería de Edificaciones, o que os deixou muito cheio de orgulho de finalmente serem chamados de engenheiros. Acontece que, estavam querendo tirar o título deles, ("só da gente!") sendo que todas as demais engenharias continuariam formando seus "engenheiros". Bastou pra que todos os alunos se juntassem num protesto desde o campus da Reina Mercedes, onde fica sua Escola, até a Reitoria, parando o trânsito numa avenida importante da cidade, e atraindo uns muitos carros de polícia. "Mano arriba, esto es un atasco!", y "Industriales, hijos de puta!" foram algumas das coisas que eu ouvi, sendo que o reitor é um engenheiro industrial e não parecia ter abraçado a causa, mesmo sendo o único que podería fazer alguma coisa no âmbito Sevilla.
Cervejas na mão, escolta de policiais, e algumas horas depois tudo se acabou, mas legal foi ver a quantidade de alunos se juntando pela causa! 
Inge-nieros! Inge-nieros!