segunda-feira, 23 de maio de 2011

Carioca, brasileira, americana; terrestre?

Que o intercâmbio é uma oportunidade de se conhecer melhor, uma vez que você está longe de casa, amigos e família, todo mundo sabe. Mas aqui descobri que o intercâmbio é também uma oportunidade de re-conhecimento. Assim,  meu professor de composição (que é o que mais me faz pensar sobre a arquitetura, a vida e o mundo mundial) disse outro dia em classe: "sólo eres tu cuando reconoce tu exterioridad". O que isso quer dizer, pelo que eu entendi, é que entender algo, identificar, nomear e etc, é um processo também de identificar seu lugar/posição no mundo e seus limites. Definir uma coisa por aquilo que ela não é (como a clássica 1ºaula de urbanismo em que se define cidade como o contrário de campo) é um já batido também.
Assim que, realizar que o seu lugar no mundo de certa forma também define quem você é, é bem interessante.
Já sabia antes de vir que a europa tinha cidades bem antigas, que as pessoas eram muito cuidadosas com a cidade, que na Itália se come pasta e na França crepes.. e outros clichês. Mas tive que (vi)ver de perto os europeus e suas cidades pra entender porque no Brasil temos menos cuidado. Entender que uma cidade é grande quando tem 500 mil habitantes e 2000 anos de história e que isso cria(??) pessoas diferentes das de cidades com 5 milhoes de habitantes e 200 anos de história. 
No Brasil, americano é quem nasceu nos Estados Unidos (da América), certo? Errado. Aqui, pela primeira vez me senti americana, fruto de um modo de viver e de construir altamente capitalista, globalizado e veloz. É, o ritmo do velho mundo é mesmo outro. Mudar? É fácil mudar de ritmo com um rio, uma giralda, e um tempo demasiado grande entre almoço e noite. Restaria saber como vai ser a volta, mas nela eu não vou pensar, já resolvi.
Outra coisa muito legal foi enxergar minha cariquiocidade  com outros olhos (ainda que eu viva em Niterói há mais de dez anos) e que meu sotaque não seja assim tão forte (aham, cláudia). Mas conviver com brasileiros de todas as partes do brasil menos do Rio me fizeram estranhar meu próprio S, e conhecer melhor os quatro cantos do meu próprio canto. Um outro professor meu do rio (sim, eu presto atenção nos meus professores.. haha) que era gaúcho, disse que quando estava em Londres fazendo doutorado também percebeu o quanto sua gaucheza fazia parte dele. Hj eu o entendo. Há gestos, atitudes e modos que só um carioca faria, ou só um baiano, ou só um palermitano, es decir. 
Cada um no seu quadrado? ainda bem que brincamos de nos (re)conhecer, e aprendemos tanto com isso.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mudaram as estações (nada mudou)

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba?"
(Por Enquanto, Cassia Eller)


Só pra que, se antes a sensação era de "tá acabando!" agora já virou "já acabou". Já faço listas de lugares de Sevilla que eu ainda não conheci, comecei a fotografar cada esquina que vejo, e me dou conta de que me faltam duas semanas pra terminar todos os meus trabalhos, até que chegue meu irmão e as entregas. Já cruzo a ponte olhando o rio e pensando "não quero ir!"
Só não termino com "estamos indo de volta pra casa", porque seria uma mentira.


Opto por terminar com um poema de um livro que minha mãe me deu quando eu era criança (não lembro a idade!) e nunca me esqueci, e acho o finalzinho um tanto quanto pertinente.


"Um aviador irlandês prevê sua morte
Nas nuvens, perdido, em seu meio,
Que sina me aguarda estou vendo;
Quem vou combater não odeio,
Não amo a quem defendo.
É Kiltartan Cross minha terra,
Minha gente, os pobres de lá,
Seu mal não finda o fim da guerra
E nem mais feliz a fará.
Não luto por lei, por dever,
Políticos, povo, escarcéu:
Impulso só meu de prazer
Me trouxe ao tumulto do céu.
A mente os cálculos faz:
À frente não tendo o que importe,
Nem tendo o que importe por trás,
Compensa esta vida esta morte.


D.W.Yeats

Tradução de Paulo Vizioli, no livro Poemas (Companhia das Letras, 1991)